É possível jogar com qualquer coisa. Até com mapas. Você só precisa enxergá-los com outros olhos.
Por Luiz Dal Monte Neto
Você pode encontrá-los nos livros, em agendas ou mesmo
pregados na parede. E só os olha pensando em localizar uma cidade, um
país, um rio. Poucos sabem que os mapas se prestam muito bem ao papel de
tabuleiro em vários jogos além do velho War. E o que é melhor: podem
ser usados para passatempos rápidos, muito apropriados para aqueles
momentos em que se espera a chegada do professor ou do chefe.
Impossível deixar de mencionar, de cara, o jogo das quatro cores,
baseado num teorema cuja demonstração desafiou os matemáticos por um bom
tempo. Em 1976, finalmente, os professores Kenneth Appel e Wolfgang
Haken, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, demonstraram que
bastam quatro cores diferentes para colorir qualquer mapa dividido em
territórios, sem que territórios adjacentes tenham uma mesma cor. Por
"adjacentes" deve-se entender aqueles que têm uma linha comum, não
apenas um ponto.
É um desafio tentador e você certamente vai querer experimentar.
Providencie quatro lápis de cores diferentes e um mapa com divisões
políticas (municípios, Estados ou países). Se não quiser pintar o
desenho, substitua os lápis por pequenos pedaços de papel ou tachinhas
coloridas. Estas, aliás, são as mais indicadas para se jogar sobre um
mapa mural: uma tachinha espetada num território simbolizará que ele
está pintado inteiramente com a cor dela.
Abstraia as cores eventualmente presentes no mapa, imaginando-o
branco. Os dois jogadores se alternam colorindo um território por vez,
dentre os que ainda estiverem em branco, com uma das quatro cores à sua
escolha. A única condição é não repetir cores em territórios adjacentes.
Quem não puder fazer sua jogada perde, mas pode haver empate, se o mapa
acabar integralmente colorido.
Outra opção requer um punhado de tachinhas de uma única cor, além de
outras duas, de cores diferentes, que servirão como peões dos jogadores.
Pode-se também usar um lápis e duas bolinhas de papel diferentes entre
si.
Um dos participantes põe seu peão num território qualquer e o outro
faz o mesmo. Os peões não podem ocupar um mesmo território. As jogadas
são assim: cada um move seu próprio peão para um território adjacente
àquele em que está e, depois, pinta qualquer outro que esteja em branco
(à exceção daquele onde está o adversário). Como não é permitido entrar
nos territórios pintados, o espaço irá se reduzindo gradativamente, até
que alguém fique bloqueado e o oponente vença. Essa mecânica, inspirada
num jogo de tabuleiro chamado Isola, foi proposta pelo francês Michel
Brassinne.
Por último, uma sugestão minha, inspirada no Nim, brincadeira em que
se dispõem fósforos em fileiras sobre a mesa, para depois serem
removidos aos poucos. Exige apenas um punhado de tachinhas de mesma cor
ou um único lápis. Os jogadores se alternam eliminando do mapa um, dois
ou três territórios de cada vez, à sua escolha, indicando-os com uma
tachinha ou riscando-os com o lápis. Porém, para eliminar dois ou três, é
preciso que eles sejam adjacentes entre si, dois a dois (por exemplo, o
caso dos Estados de Mato Grosso, Tocantins e Bahia, se o tabuleiro
fosse o mapa do Brasil). O vencedor será aquele que eliminar o último
território disponível. Essa idéia faz parte de um kit de jogos
paradidáticos de geografia chamado Por Dentro do Brasil, que desenvolvi
em 1992 para a Grow.
Luiz Dal Monte Neto é arquiteto e designer de jogos e brinquedos
Fonte: http://super.abril.com.br/superarquivo/1998/conteudo_61649.shtml
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